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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CARLOS GOMEZ CORNEJO
(Arequipa, Peru, 1898).-

 

Poeta, dramaturgo e biógrafo.
Viveu vários anos na Bolívia e aqui produziu grande parte de sua obra literária.
O historiador e romancista Alcides Arguedas, no prólogo de Cantos de amor, escreveu: "Inícios felizes para este poeta núbil, de sensibilidade transbordante, docemente melancólico e audacioso em conceber e expressar. /…/ Eis, pois, um poeta duas vezes poeta: um poeta por sua idealidade, seu generoso conceito de vida, seu insaciável desejo de embelezar a prosa vulgar e cotidiana; e sua árdua dedicação em formar novos homens, incutindo nos outros o sagrado culto da arte e da Verdade, a única coisa que torna os homens e os povos verdadeiramente grandes".
E na parte introdutória da coleção de poemas de Barajas, Carlos Alberto González observa: "Com estes poemas muito novos, um dos melhores jovens poetas da Bolívia fecha um parêntese de silêncio: Carlos Gómez-Cornejo. Renascidos de ímpetos heterogêneos, eles marcam uma nova etapa em sua vida inquieta e viril".
Seu poema intitulado 'Em louvor do artesão' expressa: "Artesão, poeta silencioso, / que trabalha incansavelmente, / pondo coração e vida neles: / minha musa te saúda trêmula / e aprisiona sua mão calejada, / como a mão direita de um nobre irmão / ou o galho cheio de um carvalho… / Poeta com músculos de aço, / que tem o mundo inteiro como Castália / e forjas teus poemas para todos…".

LIVROS
Poesia: Canções de amor, dor e luta (1922); Cartões (1929); Wipfala. Poemas de tristeza indiana (1934).
Teatro: O bebê (1922).
Outros: poetas bolivianos de esquerda (antologia, 1930); Figuras Exemplares (biografias, 1947).

Ref.- A. Arguedas, prólogo dos Cantos de amor, III e XI; C. Gómez, Canções de amor, 13; C. González, nota a Barajas, VII; Costa, Catálogo: I, 526; Bedregal, Antologia, 231; Boletim de Arquivo Min. RREE, 4, LP, 1996, 40; Blanco, 200 poetas, 2009, 38

Biografia extraída de
https://elias--blanco-blogspot-com.translate.goog/2012/01/carlos-gomez-cornejo.html

 

 

TEXTO EN ESPAÑOL  -  TEXTO EM PORTUGUÊS

 

BEDREGAL, Yolanda.  Antología de la poesía boliviana. La Paz: Editorial Los Amigos del Libro, 1977.  627 p.  13,5x19 cm                                  Ex. bibl. Antonio Miranda


FRUTO DE SERVIDUMBRE

Arisca como vicuña,
de almendrados ojos dulces,
con senos como chinchillas
que abajo el corpiño lucen,
inocente y tentadora
flor silvestre de las cumbres,
la Jesusa era orgullo
entre los imillas púberes.

En la "estancia" y en el pueblo
jóvenes anhelos núbiles
la codician y la asedian;
pero ella a todos rehúye
como un fantasma de hielo
a fuerza de pesadumbre.

La Jesusa tiene el alma
cubierta de torvas nubes;
por eso busca el silencio
"jampiri" del mal que sufre.

Del alba al ocaso, sola
el rebaño conduce,
sabe como de sus ojos
lágrimas de sangre fluyen.

La Jesusa nada quiere,
nada pide, nada arguye;
y su mirar que era fuego
hoy de cenizas se cubre.

Y así va por los caminos
con las mañanas azules,
en las tardes y en la noches
como un ave que se entume.

En la "estancia" y el pueblo
aymaras lenguas impunmes,
así cantan, donde quiera,
al sólo de músicas lúgubres.

"El que quiera a la Jesusa,
que bajo el río la busque,
que, amante fiel del "Anchanchu"
por su pasión se consume."

Y el eco, infausto, la sigue
por el valle y la cumbre,
como una sombra pensante
que su existencia destruye.

Mas nadie sabe el motivo
del hondo mal que ella sufre;
¡y ya en su vientre palpita
pecado que la confunde,
del amo, odiado, la sangre,
fruto vil de servidumbre!

Por eso, arisca vicuña,
de almendrados ojos dulces,
la Jesusa llora sangre,
a fuerza de pesadumbre.
 

 

OCASO DE LA HILANDERA

Crucificada en la angustia
de sus ventisca e invierno,
la abuela aimara está hilando
el vellón de sus recuerdos.

En la puerta de su pampa
decifra la voz del viento:
lejanas palabras jóvenes
con el color de otro tiempo.

(Las nubes, como vellones,
las hilará el aguacero.
El Altiplano es la rueca
fecunda de los barbechos).

Hilando, hilando la vida,
los pajonales y cerros,
dejó en todos los caminos
la alegría de sus dedos.

Alegría de la lana,
alegría de vicuñas
en el orgullo polícromo
el aguayo, poncho o manico.

Su mocedad de pastora
galvanizó cien deseos,
—también mestizos y blancos,—
en el "ayillu" y en el pueblo.

En la puerta de su pampa
la abuela aymara, —un espectro—,
mendiga a un dios que no es suyo
con la voz de su silencio.

Que la lechuza de noche
venga a graznar en su techo;
y que la llamen con lágrimas
los "ajayus" de sus muertos.

El "ayillu" ya no la quiere,
ni la reclaman sus nietos.
La abuela aimara se acaba
como una vela de cebo.

(Ayllu = predio, comunidad.
Ajayu = alma).

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS

Tradução de Antonio Miranda

 

FRUTO DA SERVIDÃO

Arisca como vicunha,
de amendoados doces,
com seios como chinchilas*1
que abaixo do corpinho luzem,
inocente e tentadora
flor silvestre de cumes,
a Jesusa era orgulho
entre as garotas púberes.

Na "estância" e no povoado
jovens anseios nubiles
a cobiçam e a assediam;
mas  ela de todos foge
como um fantasma de gelo
à força de sofrimento.

A Jesusa tem a alma
coberta de despropositadas nuvens;
por isso busca o silêncio
"jampiri"
*2 do mal que sofre.

Da alvorada ao ocaso, sozinha
o rebanho conduz,
sabe como de seus olhos
lágrimas de sangre fluem.

A Jesusa nada quer,
nada pede, nada argui;
e seu mirar que era fogo
hoje de cinzas se cobre.

E assim vai pelos caminhos
pelas manhãs azuis,
nas tardes e pelas noites
como uma ave à sua maneira.

Na "estância" e o povoado
línguas aymaras impunes,
assim cantam, onde quiser,
no solo de músicas lúgubres.

"O que queira à Jesusa,
que elo rio a busque,
que, amante fiel do "Anchanchu"
*3
por sua paixão se consome."

E o eco, infausto, a segue
pelo vale e o cume,
como uma sombra pensante
que sua existência destrói.

Mas ninguém sabe o motivo
do mal profundo que ela sofre;
e já em seu ventre palpita
o pecado que a confunde,
de amo, odiado, o sangre,
fruto vil da servidão!

Por isso, arisca vicunha,
de amendoados olhos doces,
a Jesusa chora sangue,
pela força da servidão.

 

*1 – CHINCHILLA - MASTOZOOLOGIA•MAMÍFERO - design. comum aos pequenos roedores andinos, do gên. Chinchilla, da fam. dos chinchilídeos, de pelagem densa e macia, ger. cinzenta, altamente valorizada no comércio de peles, o que resultou no declínio das populações selvagens.
* 2  
O jampiri quechua é o médico herbolario que por tradição se dedica a restablecer o equilibrio, a saúde do corpo e do espírito e não somente da parte física.
* Anchanchu -também llamado Abchanchu. Generalmente habita as covas  grutas do altiplano, também pode ser encontrado em rios ou em lugares usilados, os aymaras evitam passar pelos lugares em que supõem possam residir.  

 

 

OCASO DA FIANDEIRA

Crucificada pela angústia
de suas ventisca e invierno,
a avó aimará está fiando
a lã de suas recordações.

Na puerta de seu pampa
descifra a voz do vento:
distantes palavras jovens
com a cor de outro tempo.

(As nuvens, como velos,
as fiará o aguaceiro.
O Altiplano é a roca
fecunda dos pousios).

Fiando, fiando a vida,
os pajonales
*1 e os morros,
deixou em todos os caminhos
a alegria de seus dedos.

Alegría de lã,
alegría de vicunhas
no orgullo polícromo
el aguayo
*2, poncho o manico.*3

Sua mocidade de pastora
galvanizou cem desejos,
—também mestiços e brancos,—
en el "ayillu"
*4 y en el pueblo.

Na porta de seu pampa
a avó aimará, —um espectro—,
mendiga a um deus que não é seu
com a voz de seu silêncio.

Que a coruja de noche
venha a graznar en seu teto;
e que a chamem com lágrimas
os "ajayus
" *5 de seus mortos.

O "ayillu" já não a quer,
nem a reclamam os seus netos.
A avó aimará se acaba
como uma vela de isca.

 

*1 Pajonales – áres de cultivo cobertas de palha.
*2  El aguayo es la cuna de los indígenas, los bebés se llevan en el aguayo, es también símbolo del esfuerzo y del trabajo, el fruto del trabajo y de la tierra.
* 3 - cabo do martelo, da pá, do guarda-chuva, da faca, da pá, do pince.
*4 -
 (Ayllu = predio, comunidad.
*5– Ajayu = alma).

 

*

 

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Página publicada em setembro de 2022


 

 

 
 
 
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